Já pegou teu brinde já?

Terça-feira, dia de rodízio.

Claro que eu não ia ficar na empresa esperando dar 8 da noite pra poder ir embora.

Resolvi ir até as Lojas Americanas (que agora é pontocom, mas quando eu era criança era só Americanas) pra comprar ovo de Páscoa.

Confesso que não tenho lá muito apreço por ovos de Páscoa, principalmente pela relação custo x benefício. E não vem com esse papo de simbologia porque é balela da Globo e das chocolaterias. Simbologia my ass. Ainda assim, compro pela tradição. A galera gosta de ganhar um chocolatezinho na Páscoa.

- pausa para um pensamento inoportuno e provavelmente equivocado: o Carnaval é, originalmente, a festa da carne (daí o nome), do sexo (eita porra) e da baixaria em geral. Depois vem um período de 40 dias da quaresma (quarentena, sacou?), penitências, etc etc... como todo mundo no fim desse período já tá de saco cheio de fazer penitência e quer voltar pro carnaval (que é bem mais divertido), inventaram que a Páscoa tem que ser regada a chocolate, o sexo em barra. Já que não dá pra sair todo mundo fazendo suruba (e já que as crianças tem que curtir também), chama o chocolate!!! E cria uma historinha com coelhinhos, fertilidade e outras bobagens pros trouxas gastarem dinheiro nesse mês também....
- fim da pausa.

Enfim, estava eu, com meus quase 1,90m de altura, dentro da porra da seção de ovos de Páscoa (vocês não imaginam quantas cabeçadas eu dou naquelas merdas...), ali, sozinho, refletindo sobre meu próprio processo de decisão a nível de consumidor (ou seja, no fim das contas, trabalhando), rodeado pelo Ovo do Batman, da Hello Kitty, do Corinthians, da puta que o pariu (só faltou ovo do Zé do Caixão), quando OPORTUNAMENTE me aparece... o carinha.

Sempre tem um carinha.

E você sabe que o carinha vai te encher. E você pega leve porque a consciência diz (e as pessoas em volta ficam olhando com cara de) "ele tá trabalhando, coitado".

- pausa para outro pensamento-peido (inoportuno e quase-bosta): emprego temporário é bão... mas é uma merda.
- fim da pausa.

CLARO que ele enche. Mas dessa vez foi diferente:

Carinha, com a fatídica prancheta: - Oi amigo (esses caras são cheios de "amigos"), já pegou seu brinde já?

Brinde?

Na hora eu olhei o bottom da ed. Globo na pólo azul-cor-de-jeans que o carinha usava e vi que, por baixo da prancheta tinha uma revista Marie Claire e uma AutoEsporte com um furinho redondo no canto esquerdo superior... típico de edições passadas usadas pra agradar um homem ou uma mulher na abordagem. Ou seja, o "brinde".

Eu: - "Ah, é aquele lance do cartão de crédito???"
Carinha, disfarçando: - "Ahn, veja bem, cartão de crédito? Que cartão de crédito?"
Eu: - "Você vai me perguntar se eu tenho cartão de crédito e se eu quero receber umas revistas grátis por um mês. Aí eu vou te passar o endereço e o nº do meu cartão, você vai me dar uma ou duas revistas velhas e eu até vou receber umas revistas em casa, mas vou me esquecer que o período grátis é pequeno e vocês vão começar a cobrar a assinatura do meu cartão, já que a autorização tá aí na ficha, embaixo do meu endereço... Na boa, não quero não, valeu!!!"

E o carinha teve um ataque de riso.

E falou "putz, é isso mesmo, cara...falou aí!".

Virou as costas e foi abordar uma véia com a Marie Claire na mão.

E eu continuei procurando um ovo de Páscoa da Gretchen.